“O Povo Unido Jamais Será Vencido”

Intervenção da deputada do Bloco de Esquerda, Telma Ferreira, na Cerimónia Solene de comemoração dos 46 anos do 25 de Abril de 1974, na Nazaré.

Há frases que são símbolos da transformação individual e coletiva. Que representam mil vozes de combate e resistência.

Uma Revolução faz-se com a memória do que somos. A memória de quem deu o primeiro passo, de quem da miséria fez revolta, de quem foi ativista na clandestinidade, de quem se juntou à concentração popular, de quem contemplou, simplesmente, a marcha revolucionária, de quem resistiu à tortura e à guerra e a memória de quem não viveu esse dia de mudança mas que o transporta consigo quando canta de pé os mesmos ideais.

As histórias podem selecionar os seus protagonistas, mas a nossa essência permite-nos saber que só coletivamente obtemos respostas, só quando agimos em conjunto atingimos transformações sociais, alcançamos sonhos e desfazemos utopias.

O 25 de Abril de 1974 foi o dia em que o movimento social triunfou, o dia sem classes, em que as Forças Armadas com a força da manifestação popular derrubaram um regime de opressão. Unidos pelo mesmo fim, salvar o país da pobreza e do atraso forçados pela ditadura e libertar a população da guerra colonial.

O paradigma alterou-se com o triunfo da Democracia, a liberdade foi conquistada. Passados 46 anos, há debilidades que perduram e que se tornam mais visíveis em momentos de catástrofe. A recordação do que foi construído e dos direitos garantidos pela Constituição, após o apagar do Estado Novo, deve motivar-nos a combater as injustiças de hoje.

No presente, vivemos um momento particular, uma crise pandémica global que faz-nos sentir as nossas fraquezas e como o ser humano ainda é um fenómeno de fragilidade.

É tão importante hoje reforçarmos o Serviço Nacional de Saúde como foi no início da nossa Democracia, com a sua criação.

É tão importante hoje reforçarmos os serviços públicos como foi fundamental após a Revolução

É tão importante hoje valorizarmos o trabalho e os rendimentos de quem trabalha como foi depois de Abril de 74

É tão importante hoje promovermos e garantirmos o acesso ao ensino como foi no período em que perto de metade da população era analfabeta.

Esta pandemia mostrou-nos, que em momentos de condicionamento social e económico, são os mais desprotegidos que mais são penalizados.

É neste momento difícil que temos de definir quais são as prioridades e a prioridade do Bloco de Esquerda é proteger as pessoas, enquanto ativistas políticos temos o dever de proteger os mais vulneráveis e temos o dever de assegurar que as pessoas de risco são acompanhadas

As autarquias como centros de proximidade têm a responsabilidade de, através dos serviços públicos locais, não deixar ninguém para trás. De garantir intervenção solidária das diversas entidades do concelho e as medidas de emergência necessárias para que a população não seja flagelada pelo risco de saúde pública e por fatores socioeconómicos.

A reduzida percentagem de habitação pública, a flexibilização dos despedimentos e os baixos rendimentos dos trabalhadores e trabalhadoras, são feridas que ainda não foram cicatrizadas e que são mais visíveis agora num cenário de confinamento.

As dificuldades são extremas para as pessoas sem casa e para as vítimas de abuso laboral, que se encontram sem qualquer tipo de rendimento. A luta pela sobrevivência e pela dignidade de vida está em cima da mesa.

Só podemos evitar uma crise social se nos unirmos contra a política de austeridade. Todos os profissionais de saúde que têm sido imparáveis na prevenção da propagação do vírus, todas as professoras e professores que garantem o acesso ao serviço escolar, todas as trabalhadoras e trabalhadores que garantem o acesso aos produtos de primeira necessidade, os que garantem a limpeza e a desinfeção dos espaços e das ruas, os que garantem a informação nos meios de comunicação social, os que garantem os transportes, os serviços públicos, as operárias e os operários fabris que mantém o funcionamento do mercado, todas as associações e entidades que têm prestado um grande auxílio na intervenção voluntária, especialmente no apoio ao domicílio, todas e todos nós que cumprimos as regras de contingência para assegurarmos a saúde pública, não podemos permitir que este esforço coletivo, que este esforço do povo seja compensado com a austeridade, com a superioridade das grandes potências sobre países mais carenciados, como o nosso.

O que Abril cumpriu com cravos, força e alegria, não pode cair no esquecimento. Deve ser a memória de hoje, do campo, da aldeia e da cidade, a nossa identidade.

Há frases que são símbolos da transformação individual e coletiva. Que representam mil vozes de combate e resistência “O Povo Unido Jamais Será Vencido”.  

25 de Abril Sempre!

 

Ver vídeo Aqui.