Trabalhadores da Cultura, que futuro?

O concelho da Nazaré tem sido um exemplo claro de uma política de execução débil no investimento cultural.

Sem rua e sem contacto, o setor cultural foi o primeiro a ser afetado pela crise pandémica que vivemos e que se transformou rapidamente em crise económica e social.  

Tornou-se mais evidente, com o encerramento de muitos espaços culturais e com o cancelamento de espetáculos e de toda uma agenda cultural performativa, a situação precária dos seus trabalhadores que ficaram confrontados com o espaço vazio da prática cultural e artística e com a falta de proteção laboral que lhes permitisse a sobrevivência digna.

Os apoios sociais atribuídos a este setor, por parte do Governo não têm sido os necessários para ultrapassar e responder às dificuldades destes profissionais. Um sector altamente fustigado pela precariedade e que há muito reclama por legislação laboral apropriada, encontra-se agora ainda mais vulnerável devido à interrupção das suas atividades.

É verdade que o tempo da ditadura destruiu e regrediu o nosso progresso cultural e social e que após a Revolução de Abril, o trabalho para o desenvolvimento da educação e de estímulo da população para o enlaço das Artes e sua valorização na transformação do nosso espaço habitacional, foi um processo lento, ainda hoje sentimos as consequências desse período de estagnação.

A formação do poder local autárquico contribuiu, de forma essencial, pela proximidade das ações com a vida local concreta, para que as políticas locais investissem cada vez mais no setor da cultura e das artes e na crescente construção de espaços dedicados a essa área de intervenção.

Sabemos bem que a fatia nacional do Orçamento para a Cultura tem sido insuficiente para impulsionar os movimentos culturais e artísticos e para o delineamento de políticas locais sólidas, que trabalhem para o longo prazo e não para agendas culturais breves e descontínuas.

O concelho da Nazaré tem sido um exemplo claro de uma política de execução débil no investimento cultural. Ao longo de vinte anos de PSD e no oitavo ano de mandato de Walter Chicharro, do PS, podemos constatar que as prioridades de investimento se limitaram sempre à construção e reestruturação de espaços, fundamentais, é certo, para o desenvolvimento educativo e cultural, mas insuficientes quando não são acompanhados pelo desenvolvimento de políticas culturais sólidas e permanentes, que passam pelo apoio e projeção dos profissionais locais e pela criação de uma agenda contínua, de formação de públicos locais para o património, a educação, a criatividade, a literatura, a música e para as artes plásticas e performativas.   

O Partido Socialista na última Assembleia Municipal chumbou uma recomendação proposta pelo Bloco de Esquerda que tinha como objetivo, a proteção dos direitos dos trabalhadores da cultura em crise pandémica e económica em 2021.

Uma proposta para que o cancelamento dos espetáculos contratualizados, apoiados e financiados pelo Município fosse pago a 100% a todos os trabalhadores e trabalhadoras que fizessem parte do quadro de preparação e realização de cada evento e que defendia ainda a garantia do acesso aos equipamentos culturais municipais, por parte dos profissionais da cultura, que devido às especificidades da sua atividade devem poder usufruir dos equipamentos para ensaio ou investigação.  

Para além de não existir uma estratégia para o futuro da cultura no concelho, também é visível a falta de sensibilidade deste executivo para com as dificuldades destes profissionais. É notória a incapacidade de quem assume esta pasta para desenvolver políticas culturais que, de facto, reforcem e estimulem a criação de públicos, capaz de redimensionar o nosso espaço urbano. 

 

Artigo publicado no Jornal Região de Cister.