Rasgámos muros, já não paramos!
Recordamos hoje, 47 anos depois, o dia em que rasgámos os muros de um sistema autoritário, de repressão e violência. Rasgámos um regime que se alimentava da pobreza do seu povo e de uma Guerra, que se enchia de sentimentos de posse e chacina pelo “outro”.
O dia 25 de abril de 1974 foi o dia em que o Movimento das Forças Armadas e a força do movimento popular se encontraram e não pararam. De corpos dados derrubaram a ditadura fascista do Estado Novo, fizeram cair a PIDE, a censura, libertaram os presos políticos, puseram fim à Guerra Colonial e colocaram ao alcance de toda a população portuguesa as liberdades e os direitos fundamentais.
Celebrar a Revolução dos Cravos é fazê-la permanente no pensamento e na ação, é usá-la e defendê-la hoje, todos os dias, como se as ruas e as praças ainda estivessem quentes dessa gente madura a gritar por ser livre.
Se olharmos para trás, sentimos ainda fresco esse legado adquirido. A criação do Serviço Nacional de Saúde, capaz de garantir cuidados de saúde a todas as pessoas, independentemente da condição económica, a criação da Escola Pública, que disponibilizou o conhecimento e a aprendizagem, num período em que uma parte significativa da população era analfabeta, o direito à habitação e os direitos de quem trabalha, que melhoraram significativamente a dignidade de vida de cada uma e de cada um de nós.
Hoje, não só a pandemia nos mostrou que estas conquistas fundamentais devem ser reforçadas para garantir um Estado Social forte, que chegue às pessoas sem deixar ninguém para trás, como também hoje há quem queira deitar abaixo o que foi levantado pelo sacrifício de muitas gerações.
Há quem queira destruir o que Abril construiu. Todas e todos nós, vozes participativas em Democracia, temos o dever de defender os princípios constitucionais pelos quais lutámos: que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Que ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
O Bloco de Esquerda, não só está na linha da frente na defesa das conquistas da Revolução de Abril, como tem acompanhado ao longo da sua história a força do movimento popular, do movimento social.
Contribuímos para o reforço da democracia e dos seus serviços públicos, aprovámos no parlamento leis históricas, feministas, que revolucionaram o paradigma dos direitos da mulher à integridade do seu próprio corpo; estamos na defesa dos direitos LGBTIQ+, por uma política de responsabilidade democrática que inclui a diferença; marcamos a luta pelo combate à precariedade laboral, saíram reforçadas, com a pandemia, as fragilidades do Código do Trabalho, que continua a permitir situações de abuso e de despedimentos em massa, que colocam trabalhadoras e trabalhadores sem qualquer proteção social e económica; estamos na luta pelo combate às alterações climáticas, por uma transição energética que seja acompanhada pelo reforço dos transportes públicos e pela reorganização da nossa Floresta e da nossa agricultura; estamos na Lei de Bases da Saúde, por um serviço universal e gratuito; estamos na Luta pelo fim das propinas, para garantir a gratuitidade do ensino superior como acontece nos restantes níveis; estamos na luta pelo reforço orçamental do setor da Cultura, estamos no combate à corrupção e à evasão fiscal, porque o dinheiro não cai do céu; estamos em muitas lutas em muitas causas, juntamente com a força do ativismo popular.
Para o Bloco de Esquerda, defender Abril é vencer a crise pandémica e as crises económica e social, recusando políticas de austeridade que tantas vidas destruíram num
passado recente.
Comemoramos este dia, 25 de Abril de 1974, porque não somos flores pisadas de outrora, somos cravos vermelhos e rosas brancas, somos símbolos de Liberdade e Resistência.
Rasgámos Muros, já não paramos!