"A crise da habitação é uma pandemia social"
No encerramento do Fórum Socialismo 2023, que juntou mais de 400 pessoas em Viseu este fim de semana em mais de meia centena de sessões de debate, Mariana Mortagua começou por deixar uma palavra de solidariedade com o povo marroquino, vítima do sismo da noite de sexta-feira.
Em seguida, sublinhou que "o que aprendemos nestes três dias de memória, reflexão e cultura faz-nos mais fortes porque dá sentido ao caminho" que fazemos e por isso é importante "convocar a história", dando como exemplo as efemérides dos 55 anos da invasão de Praga pelas tropas russas ou os 50 anos do golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende no Chile, que se assinala esta segunda-feira.
Mariana Mortágua insistiu no objetivo do Bloco de ser "a esquerda que luta pela vida boa". E vida boa "é o salário dar para a vida, sem precisar de apoios à renda, malabarismos e privação. É em nome desse princípio que nos comprometemos com uma prioridade: baixar o preço das casas".
Num país onde "o salário não dá para a vida" e que é o terceiro com mais precários na Europa, as recentes medidas anunciadas pelo Governo para os jovens traduzem-se num valor que "é engolido num par de meses de aluguer de um quarto de um estudante que não tem garantido o direito à habitação", prosseguiu.
Respondendo aos que defendem que o problema da habitação se resolve com mais construção, Mariana Mortágua responde perguntando "o óbvio: "se o mercado é assim tão esperto e bondoso, vai construir T2 a cem mil euros quando pode vender apartamentos de luxo a um milhão? Vai alugar casas a 300 ou 400 euros quando há clientes estrangeiros endinheirados dispostos a pagar 2000 euros (e recebem benefícios fiscais por isso)?". E conclui que as medidas do Governo significam que "a mesma música vai continuar a tocar", com a construção de mais hotéis e casas de luxo e os preços sempre a subir.
"É o sonho dos liberais e de toda a direita e extrema-direita, que são a claque de apoio da aliança dos especuladores e só podem agradecer à maioria absoluta do PS ter conseguido o que Assunção Cristas apenas começou: colocar Portugal no topo dos países com habitação mais cara da Europa", acusou a coordenadora bloquista.
A crise da habitação "é uma pandemia social" que arrasta o país "para o fundo". E a resposta do Bloco é juntar forças de quem não desiste do país. "É a força desta maioria que vai conseguir as soluções para baixar o preço da habitação" e Mariana Mortágua insiste em três propostas urgentes: controlar o preço das rendas com tetos ajustados à região, tipologia do imóvel e ao salário; reduzir a margem dos bancos nos juros do crédito à habitação; e proibir a venda de casas a não residentes que inflacionam os preços para níveis muito acima dos salários em Portugal.
Mariana Mortágua diz que são medidas "evidentes" e que "resultam", tendo sido "aplicadas noutros países por governos de esquerda, de centro e até liberais. Aliviam as famílias agora, protegem as pessoas agora. São a vacina contra esta pandemia", resumiu.
A quem critica estas medidas por serem "radicais, Mariana Mortágua responde que "não há nada mais radicalmente brutal que trabalhar e não ter como pagar a casa".
No seu discurso, a coordenadora do Bloco anunciou também que nas próximas semanas o partido apresentará "propostas para fazer justiça fiscal e reforçar outras componentes do rendimento do trabalho, compromissos que assumimos em nome de um único princípio: um salário que dê para a vida".
A sessão de encerramento contou também com a intervenção da dirigente bloquista de Viseu, Manuela Antunes, que criticou o contínuo desinvestimento e abandono das regiões do interior do país por parte do Governo. E citou a feminista viseense do final do século XIX e início do século XX, Beatriz Pinheiro: "Vamos lutar sempre sem descanso, sem a trégua de um segundo". Para Manuela Antunes, esta frase é o Bloco de Esquerda e por isso cá estaremos sempre na luta!"