Bloco ouviu utentes do SNS em Leiria e acusa Governo de criar “confusão imensa”
Mariana Mortágua esteve reunida esta quarta-feira com representantes da Ur'Gente - Associação de Utentes de Saúde de Porto de Mós, Comissão de Utentes em Defesa do SAP 24H Marinha Grande, Batalha pela Saúde - Associação de Utentes da USF Condestável e Movimento de Utentes de Ourém. À saída do encontro com as quatro comissões de utentes da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, recordou que o distrito de Leiria tem taxas acima da média e a rondar os 30% no que diz respeito a utentes sem médico de família. E que as dificuldades no acesso à saúde não são resolvidas com os sucessivos planos apresentados pelo atual Ministério, a quem acusa de vir criar “uma confusão imensa”.
“Alguém que se dirija ao hospital não será atendido nas urgências e será reencaminhado por uma linha telefónica. Essa linha telefónica irá reencaminhá-lo para um centro de saúde. Ninguém paga esse transporte para ir até o centro de saúde e não há nenhuma garantia que seja atendido porque não há médicos de família nesse centro de saúde”, afirmou a coordenadora do Bloco, acrescentando que a “confusão” criada pelo Governo é tal que “já ninguém sabe para que linha telefónica liga, já ninguém sabe onde é que se pode dirigir, já ninguém sabe qual é o ponto do concelho ou do distrito onde pode ser atendido, e tudo está pior”.
Para a coordenadora bloquista, pôr o SNS a funcionar não requer “uma solução mágica”, mas sim “uma coisa muito básica, que é criar condições para que os médicos, que os enfermeiros, que os profissionais que hoje estão a sair do SNS porque não entendem que há condições no SNS, possam aqui estabelecer a sua profissão e sua carreira”. E perante concursos que ficam vazios e médicos que não avançam para a especialidade porque “lhes compensa mais serem médicos indiferenciados e prestarem serviços de tarefeiros vendendo o serviço à hora” ao SNS, a resposta é que estes profissionais “têm que ter salários e condições para ficar no SNS”.
Pelo contrário, o Governo escolheu começar a transferir serviços para o privado. “Não só o governo está a comprar serviços de saúde ao menor custo ao privado, como está a dar ao privado o direito de rejeitar doentes e de selecionar os doentes que entende”, prosseguiu Mariana Mortágua, criticando este “leilão de doentes e utentes do SNS”, que considera “um erro que vai ser pago muito caro, quer na sobrevivência do SNS, quer no acesso a uma saúde de qualidade pelas populações”.
Mariana Mortágua insistiu ainda na denúncia das situações de conflito de interesses em torno da ministra da Saúde e do autor do plano de emergência e dirigente da Ordem dos Médicos e voltou a acusar Ana Paula Martins de não dar explicações nem assumir responsabilidades: “A ministra disse que ia privatizar o INEM, e até agora não clarificou o que isso significa. A ministra disse que ia dar ao privado o direito de recusar doentes do SNS, e até hoje não explicou o que isso significa”.
Proposta do Governo foi “provocação” aos bombeiros sapadores
Questionada pelos jornalistas à margem deste encontro com o protesto da véspera dos bombeiros sapadores e a suspensão das negociações com o executivo, Mariana Mortágua respondeu é importante que as regras dos protestos sejam sempre cumpridas, a começar pela comunicação às autoridades, e que também é importante reconhecer o cansaço de quem está há décadas à espera de “um mínimo de respeito pelas suas profissões que muito difíceis e muito exigentes”.
“Os bombeiros sapadores têm profissões de desgaste rápido, são profissões de risco, lidam com incêndios, perigos, matérias perigosas, mas não têm o reconhecimento da profissão de desgaste rápido. Qualquer pessoa entende que bombeiro sapador tem uma esperança média de vida mais baixa que uma pessoa em outra profissão, que arrisca a sua vida todos os dias”, prosseguiu Mariana Mortágua. Em contrapartida, estes profissionais “nem por isso têm direito a reformar-se mais cedo e o salário base de carreira é muito perto do salário mínimo nacional”. E o que o Governo fez foi apresentar uma proposta negocial com um salário de entrada ainda mais baixo do que o atual, o que a coordenadora do Bloco considera “uma provocação” aos bombeiros.
Quanto às negociações entretanto suspensas pelo Governo, Mariana Mortágua defende que devem continuar, “mas o Governo não pode entrar em negociações provocando os bombeiros com propostas de salário que são inferiores àquelas que hoje são pagas”, concluiu.
Publicado em Esquerda.net a 4 de dezembro de 2024